Que jogadores queremos para o futuro?

sábado, 10 de julho de 2010

Não adianta, nessa fase de marasmo no Carianos, cavoucar coisas do Avaí apenas pra dizer que se está atento. Parece-nos que o Delegado Lopix contratado por lá está pondo os meninos do Leão no couro. Portanto, as coisas estão se encaminhando e acredito numa melhora da fase. Vou esperar, por isso, um pouco mais para dar um parecer a respeito disso tudo que aconteceu nessa intertemporada.

Bom, mas o assunto do momento, o sangue quente que escorre pelo canto da boca, é o caso bestial, macabro e abominável do ex-goleiro do Flamengo, o Bruno, digno de um Massacre da Serra Elétrica, ou Jogos Mortais. É algo que nos choca pelo enredo absurdo e de horror que a cada dia é noticiado. Suspeita-se que, em nome do bom senso, a qualquer momento surgirá alguém dizendo que é tudo uma mentira, uma farsa, que a moça supostamente trucidada surgirá, e que tudo não passou de uma orgia mal resolvida. Todavia, a realidade é de uma variante cruel e sanguinária. É um caos surrealista.

Mas a situação apresenta uma conversa transversal, que é a condição dos jogadores de futebol, desde a percepção do que sabem jogar até a sua formação, terminando por fazerem parte de um time profissional.

A grande, imensa e inevitável maioria dos meninos entra na puberdade de supetão, aquela fase da vida em que crescem pêlos em todos os lugares do corpo, inclusive nas mãos; cresce também o tamanho de pernas e braços, cresce tudo, mas não cresce, como deveria, o essencial: o cérebro.

Biologicamente falando, o desenvolvimento cerebral nessa fase está muito mais relacionado às mudanças anatômicas e liberação de hormônios do que discernimento intelectual. É por isso que a nossa cultura condicionou os processos de aprendizagem exatamente nessa fase, para que o cérebro não embote, não murche, e se desenvolva juntamente com o restante do corpo, aproveitando a energia dispensada.

E é nesse momento, também, em que jovens de periferia, cuja educação já foi uma lástima, que sua alimentação foi miserável e sua formação de valores e princípios foi catastrófica, se encantam com o futebol.

Grande parte dos garotos nessa fase atentam-se para bater uma bolinha, jogo fácil e divertido, que pode ser feito em grupos e que toma o tempo em lugar das dificuldades da vida. Porém, junto a isso, o correr pela bola também é o correr pela vida, pela sobrevivência, pelo “ter que se virar”. Muitos desses meninos ainda nem formaram suas ligações neuronais por inteiro e já possuem responsabilidades. Em paralelo vem a contravenção, o mundo do crime, o “querer ganhar o dia de modo fácil”. E estes meninos estarão aí (já estão), defendendo as cores dos nossos times, logo, logo, sendo cobrados, sendo massacrados pela mídia perversa, sendo humilhados pelos contratos escravizantes, sendo desrespeitados.

Claro que podemos cair no clichê fácil e comum de dizer que os meninos de zonas pobres são os mais propensos a cair no mundo do crime, discurso muito bem produzido pelos fascistas de plantão. Não, não é nada disso. Mas o caldo de cultura nesse meio é direcionado a isso. Muitos, em sua maioria, não escapam do quadro que lhes espera. E quando chegam ao estrelato, mesmo que seja alguma pequena temporada de palco, a falta de valores e limites aflora. São farras, festas regadas a ingredientes perniciosos, noites mal dormidas e resultados catastróficos.

Há quem diga que jogador de futebol deve ter o seu momento de festa, de diversão, que merece uma cervejinha. Não! Errado! Mentira! Ao escolher uma carreira de atleta ele se "casa" com um monastério, pois o desempenho na profissão será, para ser bem otimista, sofrível, se não tomar os devidos cuidados. Os casos que escapam à regra são daqueles com talento acima da média.

O drama do ex-goleiro Bruno foi um limite de toda essa represa encalhada, prestes a se romper. Há, ali, um misto de uma porção dessas coisas, desde a formação do homem, passando pelos descuidos como atleta e chegando numa falta de distinção do mundo real e do mundo da fantasia baseado no estrelato. O desenrolar só poderia ser este evento patético e sinistro.

O que está faltando é um bom processo de educação. E iniciativas de pais e amigos para uma convivência pacífica na juventude. Todos nós fomos guris e gurias um dia e a energia de que dispúnhamos era enorme. O mundo sempre é pequeno para um garoto ou garota nos seus 11, 12, 13 anos. Mas se tornará imenso, um infinito de agruras e sofrimentos se algumas peças na formação, no momento elementar da vida, não forem devidamente encaixadas. A culpa disso tudo é nossa, da sociedade, que vive do consumo e não preza o humano. Bruno é o resultado de nossa sociedade.

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