Déjà vu é usualmente definida como uma impressão de já se ter visto ou experimentado algo antes, que aparentemente está sendo experimentado pela primeira vez. Na verdade, é um argumento falso do cérebro em relação à memória dos eventos. A falsa sensação de já ter estado lá é muitas vezes devida ao fato de o sujeito ter pensando já ter estado no local ou enfrentado uma situação, mas ter esquecido a experiência original porque não prestou atenção no evento. É o que os avaianos estão experimentando neste começo de 2011, a sensação de já ter assistido a tudo isto.
Creio que, pra começar, devemos dar os parabéns à equipe do planejamento e ao Mar Quetingui avaianos. Superaram-se. Que outra forma de motivar a torcida e fazer o estádio ficar cheio, lotado de parvos e emocionados sofredores, com lances espetaculares, gols sobrenaturais e narrações portentosas de um Salles Junior qualquer, senão arrumar uma situação como esta, a de deixar o time à deriva, caindo pelas tabelas, sofrendo horrores para ganhar as partidas e passar boa parte do campeonato pendurado, na degola? Até o Evando voltou para se garantir os tais gols iluminados.
É uma nova forma de marketing esportivo, que é a de deixar os outros correrem na frente e sair atrás, pra ver se depois os alcançamos, aliando incômodos planejados e temperando com boa dose de emoção gratuita. A situação, obviamente que controlada, mantém todos acesos, ligados, os olhos rútilos, a boca seca, ouvidos colados a rádios bafejadores. Nunca se comprou tanta calculadora, se benzeu tanta santinha, se comprou tanta bíblia e se fez tantos apontamentos como no final do ano passado. E, a considerar a atual fase, o comércio varejista dará um beijo estimado nos planejadores avaianos. As vendas destes kits de torcedor fanático voltarão a crescer. Que maravilha!
Só não se pode esquecer as frases de efeito, os discursos circunspectos, as hermenêuticas benazzianas. Ah, mas para isso está aí o Silas, o mais hermeneuta dos técnicos nacionais, capaz de fazer o milagre da multiplicação dos pães parecer um singelo recurso de mídia. E levantar os mortos é a sua especialidade. Quem sabe não aproveita e levanta o Avaí?
Não se pode deixar de lado os flagrantes de jogadores pegados em boates, de preferência abraçados a alguma loira oxigenada, que é pra fazer o torcedor ficar mais puto e cobrar atitudes destes que não honram o nosso manto sagrado. O, frase bonita, tem um efeito assustador. Junto a isto haverá aquelas toscas discussões sobre se é viável beber antes ou depois dos jogos e se jogador de futebol tem direito a sexo em campeonatos, etc, etc.
No final do campeonato certamente se fará um jogo com casa cheia, jogando contra o implacável Concórdia, disputando cabeça a cabeça a saída da zona de rebaixamento e, ao apito final, olhos chorosos e brados retumbantes ecoarão pela Ressacada, com direito a faixinha emocional distribuída pela rede e expondo orgulhosamente a nossa mediocridade.
O problema é que o déjá vu é um erro de memória, uma falsa sensação, que não corresponde à realidade. Provavelmente, quando acordarmos para o mundo real, poderemos abrir a porta e dar de cara com o inferno. Mas aí as TVs nos aclamarão como torcedores de um time de heróis. Se não pudermos ser campeões, ó doce ilusão, faremos com que toda a mídia nos aplauda por haver nobre e heroicamente jogado um jogo disputado na melhor forma de se fazer marketing. O marketing bobalhão.
Amanhã te pago uma gelada...
Razão, tens.
Mas amanhã é a primeira decisão do resto desse Catarinense, que também poderá ser abreviado domingo.
Ânimo, camarada!
Nada está tão ruim que não possa piorar...
Saudações AvAiAnAs!
André Tarnowsky Filho