Como destruir um cidade, em 20 lições

terça-feira, 23 de março de 2010

Neste dia em que a nossa cidade, a nossa Ilha, a Capital dos catarinenses comemora mais um aniversário de sua bela existência, clamo por uma reflexão.

Para os que conhecem Florianópolis, Floripa, a Ilha da Magia.... infelizmente atentamos para uma grande verdade!!! Estão destruindo a cidade! Este texto que reproduzo abaixo foi escrito por Fábio Brüggemann (com algumas inserções minhas!) e publicado no Diário Catarinense, em outubro 2006, mas continua atual. Existem pessoas que constroem cidades, outros preferem destruí-las. Ele dá a dica de como fazer isso, de como destruir, em 20 itens. A propósito, o autor foi exonerado de seu cargo na Fundação Catarinense de Cultura porque criticou o prefeito e o governador numa coluna no Diário Catarinense.

1) Habite uma ilha, mas de costas para o mar. Afinal, você ficará cego de tanto vê-lo que, continuar olhando para ele, será um suplício. Depois de alguns anos, "se faça de moderno" e transforme toda a orla urbana - inclusive a das lagoas - em estacionamentos para automóveis, e vá tomar café nos postos de gasolina.

2) Esqueça, de forma solene, a cultura produzida pelos moradores, a começar por destruir todo seu patrimônio material e imaterial, colocando abaixo todo o casario histórico (para quê manter casa velha?) e construa prédios funcionais, modernos" . Deixe que intelectuais, arquitetos, urbanistas, engenheiros e especialistas falem o que quiserem, eles costumam não entender nada disso.

3) Como "essa gente" faz muita porcaria, construa um imenso merdário bem na entrada da cidade, para que turistas e a própria população sinta todos os dias o cheiro daquilo que sabem fazer muito bem.

4) Depois encha a cidade de estátuas extemporâneas e esquisitas, como aquela em homenagem à Polícia Militar, carinhosamente apelidada de "No meu não". Ao lado do merdário, finque bandeiras enormes. Lindo!

5) Gaste uma fortuna na construcão de um complexo - mas complexo mesmo - de terminais urbanos que fazem qualquer viagem ficar mais lenta do que antes da construcão deles. Não dê ouvidos àqueles "malas" que insistem em achar que investir em transporte marítimo, só porque se habita uma ilha, dará resultado.

6) Aterre todas as orlas, pelo mesmo motivo já citado. Afinal, é muito mar que tem por aí. Precisamos mesmo é de terra e espaços para os benditos automóveis que são a razão essencial de nossas vidas.

7) Depois de aterrar orlas e baías, convide alguns dos urbanistas e paisagistas mais importantes do mundo para que façam um projeto de urbanizacão do aterro. Quando estiver tudo pronto, destrua tudo e coloque ônibus, muitos ônibus, para fazer "NÃO" funcionar aquele complexo citado acima. Para acabar de vez, construa um grande Centro de Eventos cuja arquitetura, além de tapar a pouca vista do mar, é bem parecida com a do merdário citado antes.

8) Asfalte todas as ruas do centro histórico. Afinal, o turismo depende apenas de sol e areia! Amplie a velocidade dos carros e permita o aumento da poluição sonora e estimule os acidentes. Ninguém vai à Europa para ver sua cultura e sua história, ou seus museus. Essa gente gosta mesmo é de ver carros, muitos carros. Para os subdesenvolvidos o carro é o simbolo da modernidade! Portanto, a cidade deve ser planejada apenas para os carros!

9) Reconstrua os pilares do Mítico Miramar, pinte de cor de rosa e deixe tudo inacabado. Afinal, aqui também tem construção nova que já é hoje uma ruína.

10) Construa centros de compras (e os chame colonizadamente de shopping, pois somos todos ingleses ao que parece) bem em cima dos mangues. Ninguém precisa daquele ecossistema cheio de feias garças, carangueijos e que de nada serve na hora de comprar roupinhas de 200 reais, vindas do Bom Retiro, em São Paulo, por apenas 25.

11) Construa casas penduradas nas enconstas das lagoas e dos morros próximos ao mar e desmate tudo em volta, para que não se tenha mais nenhum vestígio de natureza, antes que outro construa a sua também e desmate e tire a sua visão privilegiada. Cidade moderna é asfalto.

12) Desmate tudo, aterre e negocie com a Câmara de Vereadores a ocupação de áreas de preservacão permanente por empreendimentos que privatizam a paisagem e os acessos à praia. Vereadores são sempre acessíveis a bons negócios.

13) Evite o incentivo aos esportes adequados ao clima e geografia da ilha, tais como o vôo livre, a pesca, a vela, etc, e permita a ocupacão de áreas de abastecimento de lençol freático por empreendimentos imobiliários voltados a esportes praticados há anos na Ilha e adorados pelos seus habitantes, como o golfe, por exemplo.

14) Como a Ilha de Nossa Senhora dos Aterros já tem parques demais, doe os parques municipais de preservação para a iniciativa privada explorar os recursos naturais a serem protegidos e as áreas de terra para especulação imobiliária, assim como o parque Sapiens e o Parque do Rio Vermelho. (Aliás, um parque de Pinus ellioti - Vil floresta - árvore daninha à nossa fauna, flora, lagos e insetos) - Semeado em toda a Ilha, sobrepõem-se aos garapuvus, para depois alimentar e justificar a volúpia da Câmara Municipal de transformar áreas de preservação de espécies nativas em próprias para o corte e edificações.

15) Ignore os argumentos de técnicos e ambientalistas que só querem impedir o progresso da cidade e utilize as estruturas de instituições públicas para persegui-los até que abram mão das bandeiras preservacionistas e se mudem de cidade e de Estado. Essa conversa de meio ambiente não interessa para o crescimento dos nossos negócios imobiliários.

16) Construa novos e luxuosos prédios, bem altos, cada vez mais perto do mar, sem saber pra onde vai o esgoto, e os venda pra milionários de qualquer lugar do mundo, e depois coloque a culpa nos que vêm de fora pela ocupação desenfreada da ilha.

17) Deteste quem pensa um pouco no futuro (em desenvolvimento sustentável) e daqueles - mesmo ciente de que um dia vai morrer - que acham que seus filhos e netos merecem uma ilha um pouco melhor. São alienados.

18) Seja moderno e diga de boca cheia não aos "Ecochato". É muito chique ser contra os ecochatos. Prefira ser um brilhante ecoburro, que é também muito moderninho.

19) Asfalte ruas que não têm nem nome ainda, nem esgoto. Afinal, o que não aparece não dá voto. E o voto é a razão de tudo ora essa!

20) Como voce sabe que nada vai melhorar, vá embora de Florianópolis e não lute contra a burrice humana.

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