E a Granja foi ao Circo

Os bichos-cricri da famosa granja Comigo Boi Não Dança, ou mais conhecida pelas iniciais CBN-D, a Raposa Felpuda, maledicente e ardilosa, o Sapo Duende, encrenqueiro e eterno inconformado, o Bode Espanhol, velho, muito velho e carcomido, o Ratão do Banhado, que não deu certo em lugar algum e acabou dando na Granja e o Morcego Moicano, que posa de intelectual para fazer gênero, foram ao Circo do Deba para uma apresentação do Leão.
- Pouca gente, hein? – corneteou o Sapo Duende.
- Pois é! – assentiu a Raposa Felpuda. – Isso é por causa dos preços, estão muito salgados.
- Aliás, uma coisa tem quer ser dita, - continuou o Sapo – quem não quiser pagar que fique em casa.
- E se ninguém quiser pagar, aí não vem ninguém, não é mesmo? – comentou a Raposa.
- Mas isso é assim, é coisa do futebol moderno. – intrometeu-se o Bode Velho. – Lá na Europa as pessoas têm dinheiro. Por que aqui não tem?
- Humm? – fez o Ratão do Banhado.
- Humm? Humm? – continuou o Morcego Moicano.
Lá encontraram o Macaco Flor de Lis que entrevistava uma nova atração no Circo do Deba, os quero-queros importados Otávio10, que vinha da Espanha, Osvaldinho Troca-Troca, que tivera uma passagem pelos circos nacionais e o famoso quero-quero Amado Batista, eterno capitão de um grupo de quero-queros do passado. Flor de Lis só conseguiu falar com Otávio10, que vinha de uma escola de marketing pessoal. Osvaldinho Troca-Troca era gago e ficaria a noite inteira pra dizer boa-noite e Amado Batista era tímido demais pra falar.
- O, Bode! – gritou Flor de Lis para aquele que o assistia. – Esse Otavio10 é famoso. Veio lá da tua Espanha, meu velho.
- Ah, então deve bom. Tudo o que é da Espanha é bom. Até a pizza é boa.
- Mas a pizza é italiana.
- Mas por ser boa tinha que ser da Espanha, pô.
- Otavio10, tu já chegaste e já estás te apresentando no Circo do Deba? – perguntou Flor de Lis. – Que coisa, hein?
- Buenas, é que o Domador do Leão não gosta dos quero-queros da casa. A propósito, ninguém ali gosta. Aí eu arrumei essa vaguinha aqui e vou indo. Cisco pra cá, cisco pra lá e vejo no que vai dar.
Nisso, Flor de Lis percebe o Domador do Leão se aproximando e vai entrevistá-lo.
- Grande Domador. Como será a apresentação hoje?
O Domador do Leão, Aristides Fusca-Fusca, um grande bicho-preguiça baiano, arrumou sua rede e deitou-se nela, estendendo a mão para o Leão.
- O, meu rei da selva. Dê umas voltas aí que eu vou conversar aqui com o mininu.
- Aristides Fusca-Fusca, como será a apresentação hoje?
- Oli, seu mininu, nós vamos fazer uns rodeios, umas piruetas, mas nada que vá cansar os rapazes, visse, Uááá. – respondeu o bicho-preguiça baiano, dando uns bocejos e já fechando um dos olhinhos.
Depois, voltou-se para o Leão, que estava subindo na banqueta de costas.
- O, meu rei da selva. O que qui tu tá fazeno?
- Ah, é que eu tenho muita dificuldade nas patas dianteiras, não consigo fazer nada na parte da frente. Sou melhor na traseira. Por isso que eu ando assim.
Nisso o Sapo Duende esbraveja, deixando cair a dentadura:
- Assim não dá, o! Esse Leão só é bom de costas, anda sempre recuado. Esse não é o Leão que eu gosto de ver.
- Mas você nunca gosta de nada. – arremeteu o Ratão do Banhado.
- Tu não gostas mesmo. – completou o Bode. – Tudo pra ti não presta.
- É mentira! Eu falo aquilo que sou pago pra falar. Vejam lá na Granja do vizinho. Lá tá tudo bem, lá as coisas estão acontecendo nos conforme. Aquilo, sim, é que é estrutura.
- Por falar nisso, - quis saber a Raposa. – eles já trocaram de dono?
- A informação que acaba de chegar – respondeu o Ratão – é que saiu o antigo dono e entrou o melhor amigo dele.
- Ah, então será uma enorme mudança. Tempos novos, hein. - confessou a Raposa. - Opa, caiu a minha máscara aqui. Só um pouquinho.
- E o cafezinho das segundas-feiras? – perguntou o Bode.
- Não, isso não muda. Isso jamais será mudado. Não é Sapo Duende? – encerrou a Raposa Felpuda.