A turma do "O non diçe?"

Depois de uma porção de bobagens já ditas a respeito dessa eliminação da seleção que representava o Brasil na Copa do Mundo de futebol eu também tenho que dizer as minhas. Porque não?

Passadas algumas horas depois, dá pra fazer um apanhado elementar do que foram aqueles 45 minutos finais nos quais os batavos carimbaram o nosso passaporte de volta pra casa. Curioso é que a maré do “viu, eu não disse?” pipoca como baratinha na pedra. É muito engraçado. Poderia até ser substituído pelo melhor manezês “visse, o non diçe?

Mas a pergunta é: Porque não surgiu antes este pensamento mãedinaense? Porque aqueles que já sabiam não disseram, com a voz empostada, o peito estufado: “seremos eliminados pela Holanda”? Ora, muito simples. Ninguém sabe. Não adiantam as teses infundadas sobre o tipo de futebol jogado aqui ou acolá. E, de mais a mais, comentar resultados é mais fácil e oferecer a cara pra bater não é pra qualquer um.

Eu dizia, sempre, que o Brasil poderia ser campeão, sim. Errei. E daí? Faz parte do jogo.
O Brasil poderia ser campeão pelo simples motivo de ser penta, ter história em Copas, é o único que participou de todas as edições, tem o maior artilheiro, os melhores jogadores são da nossa terra, jogou uma baita eliminatória, foi campeão das Américas e da Copa das Confederações com esse mesmo time, enfim, vou acabar escorregando em meio a tantos melhores, melhores e melhores. Claro que a turma do “eu não disse?” chama isso tudo de ufanismo rastaqüera, com medo de ser pegado em contradição ante um choro pela decepção e o rasgo cínico do sorriso de ocasião. Mas, tenho certeza, estavam todos lá, fazendo feriado e torcendo feito alucinados.

O que fica de lição, é verdade, é que o futebol mudou, sim. Óbvio que pra pior. O futebol de brucutus, inexoravelmente, está em vias de exaltação. E o futebol-arte, definitivamente, em extinção. Mas, principalmente, mudou no quesito concentração. Nos detalhes. E também na força. E, ainda mais, no equilíbrio emocional. Então, não basta ter somente times competitivos e atléticos. É preciso um quê a mais, que não tivemos nestas quartas de finais.

Ficamos há alguns dias enaltecendo a condição de apenas os sulamericanos estarem em maior número nas finais do que os europeus. Pergunto de novo: e daí?Existe alguma relação causa-efeito em ser europeu ou sulamericano, morador da Namíbia, do Quirquistão, ou mesmo da Ásia para ser ou não representante numa Copa do Mundo? Não. Pelo que sei, basta fazer a bola rolar e enfiá-la dentro do gol. Apenas isso.

Há ainda por aí as teses da conspiração, da Nike sendo envolvida pela Adidas, ou de que esta Copa está mapeada para os europeus, o de que os juízes vêem apenas falta nos outros e todas as bobagens ocasionais e triviais.

Há ainda as teses do bom futebolês profundas como uma colher de chá: Dunga é medíocre como técnico, Felipe Melo é cabeça de bagre, Kaká está podre, Robinho só joga no Santos e tinham que ter levado Ganso, Neimar, Pavão, Urubu e Cocoroca. Tudo balela. Tudo tese furada. Se tivéssemos ganhado da Holanda o próprio Felipe Melo seria elevado à categoria de craque, que não é, pelo passe que deu ao Robinho. O mesmo pisão que o desclassificou seria enaltecido como o de um herói em meio à sanha vingativa holandesa. Assim como a mão de Luis Fabiano frente à Costa dos Dentes de Elefante. Ou seja, os comentários que movem o mundo do futebol estão carregados da mesma bipolaridade que já estamos acostumados a ver aqui mesmo, na Ressacada.

Acabou a Era Dunga! Diz uma manchete num grande jornal. Tolice. O cara é vencedor na vida e no futebol, apenas não joga como os abobados querem. Aliás, tô cansado de ver isso por aqui, de jogador ruim, mas que basta fazer alguns gols, beijar medalhinha, ensandecer a galera, que merece placa. Até um certo presidente já passou por isso.

O fato é que perdemos por termos sido incompetentes no 2o. tempo do jogo. Só isso. Nada mais que isso. Se ganhássemos estaríamos até agora enaltecendo a seleção do medíocre Dunga e batendo palmas pro cabeça de bagre do Felipe Melo. Imagino até a manchete: "Felipe mostrou as travas da chuteira com garra", ou qualquer besteira dessas. Arre! Bipolaridade só muda de endereço.

Dunga armou o time que podia e devia e para a próxima Copa vamos todos fazer pseudo-feriados novamente. Isso, é claro, se o mundo não acabar em 2012.