Quinta-essência

O MILAGRE DA SANTA

Foguetes estouram pela cidade. Na Praça, dois senhores sentados num dos bancos embaixo da figueira, se entreolham.
- Pois é, Manueli. Essa figueira velha não ti alembra de nada, não?
- Ô, seo ixtepô. Tás enfunchado e tás quereno mi alembrá do jogo deles, né?
- Pois inton, mô quirido. Dispôs que o pessoali da Santa assumiu o time deles, eles num param de ganhar as coisas. Qui naba, sô!
- É, nós do la'de lá adispos das ponti faiz tempo que não vê uma partidinha de futeboli das elite, sô.
- É, Manueli. Foi nisso que deu aqueli pessoali assumir a deretoria do Figuera. Até goleiro que toma frango de pênalti nóis temos. E o goleiro deles tá na seleção.
- Pois intón, Quinzinho, tem uma montuera de dívida pra pagá lá na Coloninha. Diz que até as divida da moça dos computadô eles tiveram que pagá. E enxotaram a guria de lá.
- Tadinha!
- Hã, hã! Uns malagradecidu, isso sim.
- Maji eu vou te dizê uma coisa.
- Quié, homi de deus?
- Adispos da porcissão do sinhô dos passos eu mandei fazê uns trabalho aí...
Manuel olha sério para Quinzinho, tentando entender o que ele queria confessar.
- O pedi pro nosso sinhô dos passo dá uma sigurada no tali de Sávio, aquele rapaz lá dos Framengo.
- Como assim, homi?
- Eles vão ficar sem o tali camisa deiz por uns bom tempo.
- Hã, hã, hã! Mofas, ô, tanso. Não vai dá certo.
- Porque? Qué'co'fiz?
- Eles tem o camisa sete, o camisa dezenove, o camisa oito, o camisa nove, o camisa onze. É tudo cobra criada. Eles tem uma montuera de camisa. Pra quê que tu vais te incomodá com um número só?
- Maji é o número deiz. Um número ixpeciali.
- Seo mandrião, pensa, racioncina comigo. Inquanto a gente se preocupa com a deiz delis, o nosso camisa deiz só joga em casa, não decide, não joga o tempo todo. Nóis é que precisamos de uma boa benzedeira.
- É, acho que vou rezar para santa.
- Pra queli santa? Pra paulina?
- Não, pra outra. A Paulina não faz mais milagres.