Esse Avaí faz coisa (do blog de Ledio Carmona)

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Por Mauricio Neves

A frase do título pode ser estranha ao resto do país, mas é tão familiar aos avaianos como a célebre “tem coisa que só acontece com o Botafogo” aos alvinegros. A história do time que tem seu nome ligado à Batalha do Avahy, lutada no Paraguai em 1868, durante Guerra da Tríplice Aliança, é recheada de episódios folclóricos que justificam a afirmação, em bom sotaque açoriano: - Ólho-ó, esse Avaí faz coisa!

As coisas que fez o Avaí levaram o time simpático que mandava seus jogos no velho Pasto do Bode, o estádio Adolfo Konder onde hoje se ergue o Shopping Beira-Mar Norte, ao convívio com os grandes do futebol brasileiro. Para quem olha de longe, o Avaí é o time do belo estádio da Ressacada e de Gustavo Kuerten. Mas para o próprio Guga e para os avaianos de vida inteira, o Avaí é o velho Avaí, que explica seus feitos assim: esse Avaí faz coisa.

A Batalha do Avahy original

O Avaí é íntimo dos ventos. Era assim no Adolfo Konder, com o vento que vinha dos mares e açoitava os torcedores na acanhada arquibancada. – Rapaizi, mas esse vento súli tá me encarangando! Vamo ali tomá um conhaque… E dê-lhe conhaque de alcatrão para espantar o frio e molhar a garganta dos avaianos. A mudança de endereço deu ao clube um estádio moderno, mas vento se mudou junto. Como contrariado por bater na barreira de edifícios da Avenida Beira-Mar, e saudoso das tardes de futebol, o Vento Sul – vento súli para os manezinhos – passou a sobrar imponente na Ressacada.

O Vento Sul é íntimo do Avaí. Perguntem a Adilson Heleno, que em 1988 fez um gol de falta antológico contra o Joinville, decisivo para levar o Avaí à final do campeonato e ao título. Adilson meteu a canhota na bola que ganhou vida própria no meio da trajetória e seguiu em curva louca, coração em arritmia, rumo ao ângulo direito. O Avaí e o vento, uma bela história de amor.

Esse Avaí que faz coisa, amigo dos ventos e do imponderável, ressurgiu em toda a sua grandeza ontem na Ressacada. Afinal, como sair de um revés de dois gols contra o Santos de Neymar? Para isso é preciso pressionar, para pressionar se deixa espaços, e nesses espaços Neymar deita e rola, como fez no segundo gol.

Além disso, seria preciso um jogador decisivo, um extra-classe, um scratch man. E o Avaí que ia sendo batido pelo Santos contava com um punhado de bons jogadores, esforçados, mas aparentemente sem a força necessária para liderar a reação. Mas, de repente, um sopro de Vento Sul assoviou Costeira do Pirajubaé afora e caiu sobre a Ressacada e sobre Antônio Caio da Silva Souza como uma benção. Foi como se o velho Vento Sul dissesse a Caio: - Vai, meu filho, cresce dentro dessa camisa e entra para história.

Marechal Caio em plena reedição da Batalha do Avahy

Começou então outra Batalha do Avahy, momento maior do Marechal Caio. Entre possuído e abençoado, o avaiano saiu driblando santistas a rodo, um por um, sem senso ou direção. Driblou e driblou, de um lado para outro, driblou tanto que se viu de frente pro gol e meteu o primeiro. E antes que se acabasse o primeiro tempo, chutou de longe uma bola que foi tomada por um vento rasteiro, desses que faz um pequeno redemoinho e se some, e acelerou para passar por baixo do corpo do goleiro.

A partir daí, todos os avaianos sabiam que a vitória viria, e viria com mais um gol de Caio. Bastava um chute que pudesse ser carregado pelo vento, como tantos de Saulzinho, de Balduíno, de Toninho, de Adilson Heleno. E Caio chutou. O resto é vento e história.

Sim, o Avaí permanece na Série A. A cidade vai tremer com o seu clássico na principal divisão do futebol brasileiro. Sim, Caio entrou para a história. Há muito por se analisar objetivamente. Mas isso não importa para os avaianos, felizes da vida.

Para eles, só o que importa, é a sabedoria popular. Esse Avaí faz coisa!

(http://sportv.globo.com/platb/lediocarmona/2010/11/29/esse-avai-faz-coisa)

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