A estrutura no futebol

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Passada a ressaca daquele domingo histórico, os avaianos começam a acordar para a realidade. E muitos questionamentos vão sendo feitos, após a queda da adrenalina. O principal deles é: por que precisou ser assim?

Sabemos, todos os avaianos, que conosco não há vida fácil. Não me lembro, honestamente, de alguma conquista de ponta a ponta. De termos dado uma volta sobre o 2º. colocado. O nosso famoso “passado de glórias” foi dentro das dificuldades e das ingronhas próprias do futebol.

Mas, esta história foi construída no tempo que se amarrava cachorro com mortadela, quando se tomava Crush com caninha Pitu, quando se retirava água de poço para tomar banho de canequinha, quando a vaca tinha dentes e os homens tinham cauda. No mundo do futebol moderno não é mais permitido ser amador. Até rádio-amador virou Nextel.

Quem conhece a história de um Barcelona da vida, sabe que aquele time não é o melhor do mundo por acaso. Não tem assim um Caio, mas tem um Messi, que foi criado lá dentro. Com 13 anos e 1,40 de altura esse rapaz cresceu jogando futebol e se tornou o que é hoje não por acaso. E porque deu certo? Por uma coisinha muito singela, presente no clube do Catalunha que tem as cores do Marcilio Dias: estrutura. O Barcelona tem estrutura para fazer futebol e não negócios. Os negócios vêm a reboque, não antes. Messi já era o Messi muito antes da fama.

Claro que ninguém é estúpido em comparar realidades européias com as sulamericanas. Anos de estradas, séculos de oceanos e quilômetros de espaço aéreo separam as duas realidades. Mas, de uma coisa niguém duvida: vai ter que começar em algum lugar.

Todos falam dessa tal ESTRUTURA e de como isso é importante no futebol. Há ainda quem a confunda com planejamento ou capacidade de se manter um time numa competição. Na verdade, é muitas vezes mais do que isso.

Estrutura é uma concepção de fundamentos, de certa forma intangível, ou seja, não se pode medir, mas que tem a ver com a estabilidade da instituição, no conjunto de suas partes e dando-lhe sustentação.

Uma instituição bem estruturada não se abala com reveses e nem com erros aleatórios, que ocorrem aqui ou ali, tampouco com erros sistemáticos, que são persistentes. Organizada, a instituição se ergue apenas revendo alguns conceitos, embora mantenha seus princípios. Ainda que diversas situações críticas venham a corroer parte da estrutura, se bem fundamentada é capaz de corrigir, resolver e alavancar suas conquistas.

Um clube de futebol estruturado é aquele que não apenas sabe aonde QUER IR, que campeonato conquistar, mas se PODE IR. E nunca sentir vergonha de admitir limitações em determinados momentos.

Além do mais, todo o aporte financeiro disponível para manter os gastos inerentes a uma competição deve ser auto-gerenciável. Ou seja, se faltar dinheiro para uma eventualidade, deve ser capaz de recuperar uma poupança extra, de tal sorte a não sofrer impedimentos na aquisição de valores.

E o principal ativo a ser mantido numa instituição de futebol que se quer estruturada é o seu torcedor. É ele que mantém a chama da necessidade deste clube em permanecer disputando campeonatos importantes. Ele não é cliente, ele não é comprador de quinquilharias. Ele é estimulador de sonhos. Os sonhos que permitem que se jogue futebol apenas e tão-somente, sem a necessidade de uns coitados fazerem fila no cardiologista.

O Avaí precisa urgentemente rever sua estrutura para o futebol. Atualizar-se. Claro que já há um bom caminho traçado. Seria burrice negar o que já fizemos e o potencial disso crescer ainda mais na realidade brasileira. Todavia, não pode mais depender de rezas e promessas. De santos e mandingas. Os joelhos pisados dos jogadores no domingo expuseram uma cena dramática e linda para a história do clube, mas revelam que faltou estrutura e planejamento e sobrou “empurrômetro”. Lei de Gerson pura e simples. “dá um jeito aí que vai dar certo”.

A falta de água nas dependências da Ressacada naquele domingo de Saara não foi à toa. Não foi um acaso. Não foi um descuido. Foi bananice das mais absurdas. Faltou água tanto quanto faltou futebol e estrutura neste ano de 2010.

E, a continuar assim, faltarão lágrimas da torcida para chorar outro final dramático de campanha. O momento pra repensar a rota e qual caminho seguir é agora, em cima das glórias. Nunca em cima das falências.

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