Inclusão Digital

sábado, 11 de dezembro de 2010

Há muito anos, dois camundongos e uma perereca, saídos da mata, resolveram conhecer a cidade. Ainda que vivessem nas imediações do grande centro, possuíam o medo característico dos bichos, de sorte a se manterem afastados daquelas caixas de metal que zanzavam de um lado para o outro. Ou dos macacos pelados, calçados com seus sapatos a passar daqui pra lá e de lá pra cá. Não queriam ser amassados e esquartejados, pequeninos que eram. Porém, um belo dia, criaram coragem e se enveredaram pelas ruas e avenidas movimentadas.

A perereca, que saltava mais alto, ia sempre à frente, tendo os camundonguinhos que correr esbaforidos em seu encalço. Num determinado ponto de uma calçada larga, ela, num salto, virou repentinamente para uma esquina e se perdeu dos dois amigos. Eles, ligeiros que só, correram muito, mas perceberam que a haviam perdido no meio daqueles macacos em seu ir e vir. Olharam um para o outro, atoleimados, e declararam:

- E AGORA?

Otávio, o camundongo mais jovem que seu companheiro, Olavo, sentiu-se entristecido. Afinal, sua companheira de aventuras, que lhes abria caminho e possibilitava novos rumos, ia muito à frente e não foram capazes de acompanhá-la. Se andassem à sua procura poderiam nunca mais tê-la de volta. Se ficassem ali parados, ela poderia ir muito longe e não teria mais como encontrá-los.

Olavo, o camundongo mais velho, vendo a tristeza do amigo e a possibilidade de perder a amiga Inácia, a perereca, pôs a cachola pra funcionar, na esperança de encontrar uma saída para aquele impasse. Olhou para cima e para os lados, no intuito de que alguma coisa viesse a ajudá-lo. Até que, ao encostar a patinha num cabo que saia de dentro de uma loja, percebeu que ele seguia colado ao chão e se perdia no interior de outro prédio. E foi nesse instante que uma luz no seu diminuto cérebro piscou:

- Poxa, é isso. Os macacos pelados se encontram no fim destes cabinhos. Eles não vivem sem isso, eles não se perdem. E se a gente usasse isso também para encontrar a Inácia?

- Hum, acho uma boa idéia! – contentou-se Otávio. – Mas como é que a gente faz? Entra ali e procura?

- Não, vamos esperar esse movimento passar e vamos tentar lá dentro.

Passados alguns longos instantes, o corre-anda cessou e a loja começou a ser fechada. Eles rapidamente pularam para dentro e esperaram o macaco-dono ir fechando o estabelecimento. Quando todas as luzes foram apagadas, Olavo, observando o grande computador em cima de uma bancada, falou ao amigo:

- Vamos subir naquele balcão e tentar ligar o aparelho dele.

- Você sabe mexer nesse troço? – perguntou o mais jovem, duvidando daquilo tudo.

- Na casa onde eu visitava para comer uns gorgonzolas havia um menino que ficava o tempo todo na frente desse aparelho. De tanto vê-lo mexer, acho que consigo alguma coisa.

- Como você pretende achar a Inácia desse jeito? – perguntou o jovem Otávio, cada vez mais desconfiado das habilidades de seu amigo.

- Bom, se eu conseguir entrar na rede de computadores, faço uma busca por ela. Aí faço um cadastro no Orkut, ou no FaceBook. Claro que vou usar um nome falso, colo um avatar de mulher e me transformo “no cara”. Entro também no MSN, mando e-mails e até faço contato pelo Twitter. Depois, me cadastro num blog, ou num fórum de debates e converso com ela. Em algum lugar eu vou encontrá-la.

Nesse momento, o camundongo Otávio bateu no ombro de Olavo e o encarou, solene. Seus olhos não piscavam e ele, por fim, suspirou, dizendo:

- Meu amigo, está vendo aquele pessoal ali na vitrine nos observando. Pois então, os “pessoal” querem saber, evidentemente, como é que você sabe que a perereca Inácia vai estar em algum computador por aí? E, pior, que você vai encontrá-la?

- Ora, é muito simples. Perereca perdida, e solteira, é mais fácil encontrar plugada em um computador por aí do que nas ruas.

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