Não Paguem o Resgate!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Em Periquitinho Verde, pacata e ordeira cidade mineira localizada à beira do rio Águaprarriba, os imprevistos também acontecem, se bem que mais ligados às coisas simples do dia-a-dia de qualquer cidadão ou cidadã, seja qual for a sua idade. Por isso mesmo, quando alguma ocorrência fora dos padrões normais chega ao conhecimento de determinadas pessoas da localidade – uma delas, por exemplo, é o Zé Corneteiro, considerado o maior fofoqueiro da paróquia -, a notícia passa a correr como fogo num rastilho de pólvora, e logo, logo os comentários começam a explodir aqui, ali e acolá, com cada um querendo tirar uma casquinha do infeliz envolvido na história. Mal comparando, a impressão que se tem é de que tudo isso não é outra coisa senão uma espécie de espetáculo pirotécnico da maledicência local.

O episódio em que se viu envolvido Roberval Pimenta, mais conhecido como Miquimba, casado com a Maria das Dores e dono de uma casa comercial na rua Vigário Fornalha, região central de Periquitinho Verde, serve como amostra de que o imprevisto anda sempre de olho vivo em algum desprevenido, e para surpreendê-lo vai tecendo a sua teia de circunstâncias e acasos aparentes, na qual o infeliz acaba mergulhando de ponta-cabeça.

Tudo aconteceu numa quinta-feira chuvosa e fria, no horário de fechamento do comércio. Depois de trancar a porta da loja o Miquimba correu apressado até o estacionamento próximo, pegou o carro, e quando o colocou no caminho de casa percebeu que uma de suas funcionárias, cujo nome não vem ao caso, estava parada sob a marquise de um prédio próximo, provavelmente aguardando que a chuva desse uma trégua para poder seguir até o ponto de ônibus mais próximo a fim de embarcar na condução que a levaria ao Alto do Morro, bairro onde morava. Prestativo, Miquimba decidiu oferecer-lhe carona porque, afinal de contas, naquele úmido início de noite nada mais natural que o patrão demonstrar solicitude para com a empregada, principalmente se considerarmos o fato de que ela era eficiente no cumprimento de suas obrigações trabalhistas.

Por isso ele parou e perguntou se a moça queria carona. – Claro! – ela respondeu, e entrou imediatamente no veículo.

O percurso da Vigário Fornalha ao Alto do Morro não era muito longo, mas mesmo assim demorou o tempo suficiente para que o casal mantivesse uma conversação entremeada de sorrisos e comentários alegres, que acabou sendo interrompida quando eles chegaram ao edifício onde ela morava. Foi aí, então, que o imprevisto apertou o nó da laçada com que desejava complicar a vida do Miquimba. Uma vez o carro estacionado junto ao meio-fio, ela perguntou com naturalidade:

- O senhor não quer subir e me dar o prazer de lhe oferecer um cafezinho? Eu o preparo num instante.

- Não, obrigado. Eu preciso ir para casa.

- Não vai demorar. O senhor foi tão gentil comigo que eu me sinto na obrigação de retribuir de alguma forma. Suba só um pouquinho...

Diante disso ele resolveu atendê-la. Meio sem jeito, o Miquimba subiu com a funcionária os dois lances da escadaria do prédio, entrou no apartamento dela, acomodou-se em um sofá na sala, e minutos depois, quando saboreava um drinque que lhe fora servido, a dona da casa desculpou-se e pediu licença para retirar-se por alguns minutos. E saiu. Mas não demorou muito para voltar toda perfumada, com o corpo coberto por uma camisola rendada que permitia ao patrão ver tudo o que quisesse, sem a menor dificuldade. Aí, vocês bem podem imaginar. Depois de mais um ou dois drinques, não haveria quem pudesse resistir a um convite tão explícito como aquele, não é mesmo?

Patrão e funcionária fizeram o que fazem qualquer homem e mulher que se vejam em situação semelhante. E a relação deve ter sido boa para ambos, porque foi repetida com ardor, e por isso mesmo demorada. Ao final da transa, satisfeito consigo mesmo e mais ainda com a sua parceira, ele virou-se para o lado e dormiu sossegado, com um sorriso prazeroso nos lábios.

Mas acordou assustado às quatro da madrugada, e lembrou-se na mesmo instante do que havia acontecido algumas horas antes. A vantagem que distingue o Roberval da grande maioria dos mortais, é que ele é um homem que encontra em tempo curto a resposta correta e necessária para as situações de emergência, de urgência urgentíssima. Por isso o comerciante encrencado agiu depressa: pegou o telefone, discou o número da sua casa, e quando a esposa o atendeu ele gritou em voz bem alta e nervosa:

- NÃO PAGUEM O RESGATE! Eu consegui fugir dos bandidos e já estou indo para casa...

Ao que parece, no silêncio da madrugada o vizinho do apartamento ao lado também ouviu a mensagem, e foi assim que a notícia da aventura amorosa de Roberval Pimenta, prestigiado e respeitado comerciante periquitinhoverdense, chegou ao conhecimento dos faladores de plantão, e daí em diante vocês bem podem imaginar o que foi que aconteceu.

Por FERNANDO KITZINGER DANNEMANN, do blog http://www.fernandodannemann.recantodasletras.com.br

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