Já havia algum tempo vinha montando essa espécie de dossiê, ou uma forma de expor, segundo a minha visão, e apenas ela, o que levou o Avaí à queda para a série B. É chegado o momento de pôr à mesa o que penso disso tudo. Houve um tempo para dar apoio, incondicional, que lamentavelmente poucos entenderam. Mas, a postura agora é de cobrança. Apoiamos o doente que chegou a uma fase terminal, por culpa dele, diga-se. Porém, ele tem uma conta a pagar agora.
Eu não sou um homem reticente. Não sou de poucas palavras. Também não gosto de mediocrizar as discussões com pontos e vírgulas tão-somente. O momento merece muita reflexão e há muito o que dizer. Essa análise não caberia, assim, numa página apenas. Não adianta alguém apontar um só motivo, ou fazer um resuminho, dois ou três pontos e está bom. Pode haver um início, ou um fator aglutinante, mas todo o processo é amplo, complexo e estrutural.
Separei, por isso, várias situações que vou publicar nos próximos dias, que no conjunto da obra podem explicar o que houve, pode dar um indício, sugere um norte, ou pode estar completamente fora da conjuntura. Não sei. Todos sabem e ninguém sabe. A ferida ainda está purgando e a dor não ajuda a raciocinar muito bem. Mas, é dessa maneira que eu vejo e reflete a minha opinião sobre tudo o que vimos e encenamos neste período tenebroso para a nossa história. Cada um tem a sua opinião e eu me ponho a explanar o que eu entendo da situação toda.
Não pretendo, portanto, ser o dono da verdade e nem indicar caminhos. Nem mesmo fechar questões ou apresentar veredictos. Até porque, muita coisa é nebulosa e encoberta demais, com quais interesses não se sabe. Por isso, não vou cair pelo caminho da leviandade, das especulações baratas, mas da apresentação de algumas dúvidas. E, é bem provável, muitos esclarecimentos a respeito delas possam explicar o que houve com o Avaí neste período 2010-2011. Como sempre digo, prefiro a dúvida e ir atrás de respostas, do que me conformar com falsas verdades.
A primeira proposta de discussão, que não é por ordem de importância, mas é o que me veio à mente, trata das categorias de base. Talvez porque tudo deva começar por aí, pelos menores.
Categorias de base, em qualquer clube de futebol no mundo, deve ser uma poupança. Além de ser um fornecedor de craques para o futebol como um todo, deve ser uma maneira de o clube se financiar futuramente. Dito assim, pode parecer aquelas coisas de séculos passados, quando vivíamos sob o terror da escravidão e onde o ser humano era um mero produto. Não, a visão é de investimento.
O clube gasta, financeira e tecnicamente, com profissionais habilitados para formar atletas desde a mais tenra idade. Desde a peneira, onde são escolhidos os menores nas regiões ao redor da sede do clube, até a indicação de algum potencial bom jogador por olheiros ou amigos do clube, essas etapas devem ser profissionalizadas. Há que se ter critérios rigidamente fundamentados. É uma formação quase acadêmica e para isso é preciso ter requisitos sustentáveis.
A realidade do Avaí, nesse aspecto, deixa a desejar. E muito. Parece-nos, à primeira vista, que nada disso é cumprido. Pelo menos o depoimento de pais e familiares de pequenos avaianos que se submeteram a peneiras na Grande Florianópolis é de arrepiar os cabelinhos da nuca. Muita gente ficou indignada com algumas posturas. Não cabe aqui fulanizar, ou abrir espaço para fuxicos e fofocas, mas é surpreendente o que se conta a respeito desses trabalhos.
Deve-se, também, procurar entender qual a razão de se haver trocado todo o departamento de futebol de base, onde havia gente (supostamente) capacitada, por amigos e aliados da ex-parceria. É, também, de se tentar entender qual o papel do senhor Gabriel Zunino nesse processo. Qual era a sua relação com as categorias de base? E com a parceria, ou ambos em conjunto? Há, ainda, que se entender como é o comportamento da gurizada que se alberga nas dependências da Ressacada. As informações que se têm são duvidosas e algumas absurdas.
O Avaí, que já fez um bom papel nessa categoria, parece que errou a mão. Viveu um bom momento na vitrine do futebol jogado pelos meninos recentemente, na Copa São Paulo, o que revelou boas promessas para o nosso futebol. Mas, não passaram de promessas e o trato continuado beirou às raias do pouco caso. De um lado a outro, ressalte-se. O presidente do Avaí, ao que parece, delegou funções e responsabilidades a quem não estava preparado para uma atividade desse porte. As informações tiradas inclusive pela imprensa revelam-nos demandos e atos inconclusivos, que resultou, até, na demissão de muitos deles, os famosos cariocas.
Para o Avaí começar a ter algum retorno caseiro, uma renda equilibrada, deve estar contido em seu planejamento um investimento sério e digno às categorias de base. Quando se precisar de gente da base, que estes conheçam a realidade do clube desde o princípio, desde técnicos, preparadores, investidores e até jogadores. Que tenham consciência das dificuldades internas e, após uma exposição na mídia, reverta os investimentos.
Falando numa linguagem estritamente empreededora, o Avaí não pode mais recorrer a "peças de reposição" externas, quando deveria ser a base a fornecer estes recursos. Os interesses devem ser nossos e não externos. Por isso, os atletas das categorias de base devem ser do Avaí, e somente dele, pois esta seria, ao meu ver, a melhor forma de cobrir custos futuros e de se ter jogadores à disposição do elenco principal.
Nesse período em que os erros se acumularam, as categorias de base foram uma de nossas mazelas.
Resumindo-se, espera-se um clube administrado profissionalmente e não esta papagaiada que vemos desde o início de 2010 com a soberba e arrogância típicas de quem se acha infalível. Taí o resultado, engole esse com farinha Zunino e cia.