A vaia programada

terça-feira, 20 de abril de 2010

O assunto realmente é chato, mas não dá pra fugir, pois é o tema do momento.

Uma frase de Nelson Rodrigues me chama a atenção: “A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem.”

Está previsto para o jogo contra o Grêmio uma vaia especial e indecorosa para aquele que já foi o nosso técnico, um tal de Silas. Rapidamente correu pela internet uma elaboração de palavras de ordem, de gritos, de apupos, de ovação (no sentido literal, que é jogar ovos) na forma de brados e desacatos estrepitosos a ele.

Ao ler a frase do Nelson eu constato: não concordo. Não concordo com essa proposta, pelo simples fato de que isso, a grande vaia, no caso específico, se tornará uma apoteose, uma deificação, uma divinização, demonstrando a ele que o quê nos disse nos feriu. Ora, vamos deixar de ser babacas e sentimentalóides. O cara fez aquilo como técnico adversário. Cansei já em dizer isso. O nosso técnico chamou a atenção pra isso. Aliás, ele mesmo disse que o técnico do Avaí é ele e não o outro.

Se um dia formos a Quito, a Lima, à Bogotá, mesmo a Buenos Aires ou Montevidéu, no jogos pela Libertadores, vamos ver coisas que nos assombrarão muito mais do que meia dúzia de palavras ditas no calor do espetáculo, ou de gestos feitos a esmo. E tutti quanti jogadores brasileiros, que estiveram lá fora, já comeram o pão que o diabo esmagou sob seus cascos no contato com as culturas “estrangeiras”. Por isso aprenderam a engolir certos sapos “divinos”, como uma vaia apoteótica, por exemplo. Alguns jogam, hoje em dia, em times brasileiros, ou viraram técnicos. Assim, não é uma vaiazinha de meia duzia de mequetrefes avaianos que os irá fazer balançar, ou embicar os beiços.

A nação avaiana deve demonstrar que o seu time é o Avaí, o atual técnico é o Chamusca e é para estes que devemos voltar nossos olhos, pois os outros são os outros. Vaia não se programa, ela acontece.

Prefiro, então, outra frase dele, do Nelson: “Em nosso século, o ‘grande homem’ pode ser, ao mesmo tempo, uma boa besta.”

Não vamos dar milho às bestas.

1 comentários:

  1. Rodrigo disse...:

    Perfeito o texto, o melhor a fazer é demonstrar indiferença e incentivar nosso time e nosso técnico.
    Abraços

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