Corre aí pela cidade a história de que um grupo de meliantes da burguesia decante de Florianópolis, havidos como rebentos bem nascidos, violentaram uma jovem numa suposta festinha no Centro da cidade. As descrições que se faz do terrível fato revelam mentes sádicas e doentias, típicas dos mais sangrentos contos de terror. E foi noticiado que o caso está em investigação.
Mas, até aí, nada de diferente do que já vem ocorrendo numa cidade cuja polícia se mobiliza a atacar com força descomunal estudantes e manifestantes e deixa poderosos traficantes e homicidas à solta pelas ruas. Lamenta-se tudo isso, mas entramos naquela esfera perigosa da banalização do crime.
Ocorre que, no reverso da história, um dos delinqüentes que odeia mulheres é nada mais, nada menos que o filho de um empresário das comunicações em nosso Estado, de uma grande rede, daquela mesma cujos times de futebol da Capital adoram abaixar as calças e oferecer seus préstimos a quem os odeia. Sim, eles, da rede, babam para seus patrões lá do Sul e desprezam as coisas da nossa gente. E a gente daqui ainda os aplaude, que maravilha!
Nesse interregno, estou aguardando ansiosamente a manifestação de um prócer sobre o caso, um senhor que ancora um programa de rádio nas tardes, tido como um ditardozinho fascistóide de filmes classe B, um Darth Vader tupiniquim, um que diz ter uma delegacia poderosa atrás dos teclados e microfones, que nasceu num galpão sujo e malcheiroso, cujo reflexo deve ser o mesmo de sua própria mente. Este senhor, que se arvora como o porta-estandarte da moral e dos bons costumes, que só ele decreta, diz aos brados que meliantes deste tipo nunca deveriam ter nascido, que na delegacia dele os trataria como quem acossa um cão raivoso, e que a lei deve ser impiedosa para gente desse tipo.
Eu até concordaria com um poderoso instrumento do Estado contra esse tipo de crime, o crime covarde contra a honra e a intimidade dos cidadãos, principalmente contra mulheres. Mas, o que quero chamar a atenção é para a hipocrisia que flui por ali, uma vez que surgem, agora, interesses comerciais e de ordem profissional, uma relação patrão-empregado. De nada adianta invocar o Estatuto da Criança e do Adolescente para o filho do patrão, se para os outros aplicar-se-á a lei de Talião. Não estou, com isso, pedindo abrandamento a delinqüentes deste tipo, mas que o tratamento seja igualmente implacável. O delegado bufão, por certo, se calará, pois poderá bater no filho do patrão.
O caso é uma autêntica aula retórica: eles chegam, nos violentam, atacam o que é nosso, e se calam. Nunca serão o que pretendem ser.
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