Quinta-essência, a coluna das quintas

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Na tradição filosófica, a quinta-essência é o mais alto grau de alguma coisa, é algo sublime, a plenitude, o requinte. Como eu sou besta, mesmo, vou eleger a minha quinta-essência exatamente às quintas-feiras, ou seja, vou trazer às quintas causos, historietas, personagens e folclore. Cuide-se, tu que estás aí lendo, que podes ser o próximo a virar um personagem folclórico. Ah, a turma da Granja Comigo Boi Não Dança vai aparecer com mais freqüência neste dia, assim como o homenzinho de Júpiter, que será apresentado nesta primeira coluna.


O nojo do ET

Certa vez, desceu à Terra um homenzinho vindo de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Na verdade, sua nave ficou à deriva por alguns anos, sem vento solar, e foi absorvida pela gravidade terrestre. Naquela época, sua nave aportou exatamente numa Ilha ao Sul do Atlântico, bela pelas suas paisagens, uma beleza ímpar, mas que no inverno se acinzentava de tal maneira, que os morros, baias e lagoas se escondiam sob as nuvens, encobrindo aquela maravilha. E o frio ali era de lascar.

O homenzinho de Júpiter observou algo estranho naquela ilha. Havia um aglomerado de outras naves, com rodas, todas enfileiradas e uma seguindo a outra, numa rua que se dirigia para as praias do Sul daquele lugar. Consultou o computador de bordo da nave e foi informado que aquela situação já era assim há muitos e muitos anos. Não entendeu a razão de aquilo ser daquele jeito e, ao pesquisar mais uma vez, chegou à conclusão que os humanos que administravam aquela Ilha não gostavam das pessoas que moravam ali e só os procuravam quando queriam passar mais uma temporada de férias num negócio chamado Prefeitura.

O homenzinho de Júpiter entendeu, então, que prefeito era aquele tipo de humano que procurava auxílio dos outros humanos para viver na sombra e água fresca, mas que, em contra-partida, não ajudava ninguém que o havia ajudado antes. Pela primeira vez ele sentiu uma ânsia de vômito, haja vista que em Júpiter as pessoas sentiam repugnância por coisas erradas.

Depois, o homenzinho de Júpiter percebeu que ao lado daquela fila jazia uma obra monumental, uma redoma aberta, toda em azul, da cor do planeta que ele visitava. Ele consultou mais uma vez o seu pai dos burros eletrônico e ficou sabendo que aquilo se chamava estádio, e era o lugar onde se praticava um negócio chamado futebol. Ficou encantado com o que acontecia ali. Humanos se reuniam dentro daquela enorme redoma. Uns, no centro, em cima do gramado verdinho. Outros ficavam ao redor, observando o que faziam os que ficavam no meio.

O homenzinho de Júpiter percebeu, ainda, os humanos que apreciavam o que os outros humanos faziam, eram fiéis e leais a eles, vestiam roupas azuis e brancas parecidas, agitavam bandeiras com as mesmas cores, alguns choravam pelo que aqueles humanos do centro executavam, mas alguns, senão uma grande parte, vivia xingando e proferindo palavras horríveis para eles. Para aqueles os quais eles idolatravam, que coisa estranha. Como que era isso? Que razão louca conduzia estes humanos?

Pesquisou mais a respeito da prática insana que ocorria ali e viu que aquela gente era alucinada por aquilo, por aquele troço que eles chamavam futebol. Mas o homenzinho de Júpiter também viu que havia espaços vazios na redoma. E então se perguntou: Se aquela prática era o que fazia bem a gente espalhada ali, se todos iam ao êxtase ao observar a coisa se desenrolar, se amando ou odiando, pulavam freneticamente na redoma por aqueles humanos que corriam no campinho verde, porque o tal estádio não estava lotado?

Foi aí que o computador de bordo da nave do homenzinho de Júpiter começou a apitar, acendeu e apagou algumas luzes e soltou uma fumacinha na parte de trás. O homenzinho de Júpiter ainda inseriu um pendrive atualizado com um crack que ele baixou lá em Marte, mas não deu resultado. Nesse momento, o homenzinho de Júpiter entendeu que para certas perguntas nem a Tecnologia, nem as ciências exatas ou mesmo as ocultas tinham respostas. À medida que tomava consciência daquilo, uma gosma começou a se formar em sua garganta branquial e, antes que tivesse mais um acesso de náuseas e estragasse o restante dos controles, o homenzinho de Júpiter manobrou a sua nave e foi vomitar em outro lugar.

Dizem que alguns humanos, com camisas listradas em preto e branco, cujo entretenimento era similar ao dos humanos que vestiam azul, estão até hoje limpando uma mancha verde que lhes caiu do céu na camisa.

2 comentários:

  1. Unknown disse...:

    Já disse Iuri Gagarin "A Terra é azul", talvez por isso a exata escolha do estádio. Mas nem em Marte, nem em Júpiter encontraremos as respostas para todas as nossas perguntas (agora pareceu Arquivo-X).
    Valeu pelo comentário no http://alameda1976.wordpress.com/2010/08/05/mesa-quadrada-%E2%80%93-05082010/
    E, em relação, ao que o o ET viu na Prefeitura, sugiro a leitura http://alameda1976.wordpress.com/2010/08/05/a-espera-dos-barbaros-de-constantino-cavafis/
    Abs.

  1. Unknown disse...:

    Sobre À Espera dos Bárbaros". Seriam os ETs? Infelizmente, não tenho outra referência no momento. Foi um poema que tive acesso ainda na época que cursei Letras. E isso, já faz um "bocadinho" de tempo. Até tentei, rapidamente, pesquisar alguma coisa na internet, mas não encontrei. Desculpa!

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