Os bichos-cricri da famosa Granja Comigo Boi Não Dança, mais conhecida pelas iniciais CBN-D, a Raposa Felpuda, maledicente e ardilosa, o Sapo Duende, encrenqueiro e eterno inconformado, o Bode Espanhol, velho, muito velho e carcomido, o Ratão do Banhado, que não deu certo em lugar algum e acabou dando na Granja e o Morcego Moicano, que posa de intelectual pra fazer gênero, reuniram-se em volta de uma mesa bicuda para apreciar fotos tiradas na Granja do Vizinho.
- Mas, o que significa (opss!) essas fotos, ô, Ratão? – quis saber de imediato o Sapo Duende, ajeitando a dentadura.
- Pô, você não sabe? – respondeu, resignado, o roedor, babando sobre a mesa. – São as fotos do melhor arrancador de mandioca da Granja do Vizinho. Ele tirou 100 mandiocas em 10 anos, um feito inédito.
- Peraí, como é que é? – ajeitou-se na cadeira o Sapo. – Feito inédito? Arrancar 100 mandiocas em 10 anos?
- Há que se ressaltar as dificuldades para isso, né. – interpelou o Morcego. – Ele tem calo nas mãos e frieira nos pés.
- Então vamo lá! – apartou o Bode Espanhol. – Ele tem o calcanhar virado pra trás, não tem? E as mãos têm cinco dedos, não tem?
- Sim, como todo mundo. – consentiu o Ratão.
- Então cadê a dificuldade? – esganiçou o Bode.
- Uma coisa tem que ser dita aqui, ô. – interveio mais uma vez o Sapo. – Todo mundo que é arrancador de mandioca consegue fazer isso em muito menos tempo. – agora, passando Corega na dentadura.
- Ah, mas você não sabe do melhor. – emocionou-se, efusivo, quase indo às lágrimas, o Ratão. – Ele consegue arrancar mandioca quase sem sair de casa. Põe um chinelinho e vive com a mandioca na mão. Não é uma maravilha? Eu sou fã desse cara, ele é o máximo, o melhor.
- Ah, então o cara é bom, mesmo. – deduziu o Bode Espanhol.
- Pois é, pensando assim, não há melhor que ele. – acompanhou o Sapo Duende.
- Temos que exaltá-lo até não poder mais. – comoveu-se mais uma vez o Ratão do Banhado.
- Até porque, não é nada, não é nada, mandioca no dos outros é refresco. – concluiu o Morcego Espanhol.
- Só pra saber. – interpelou a Raposa Felpuda, ajeitando o cachecol rosa Pink. – Vocês foram ao café com biscoitinhos ontem, lá na Granja do Vizinho?
- Claro, claro! – respondeu o Morcego de bate pronto. – Nisso a gente não pode faltar.
- E tinha brócolis na sobremesa? - perguntou de novo a Raposa.
- Sim, bastante! - respondeu o Morcego Moicano.
- Muito bem! Que espetáculo! – exaltou a Raposa. – Continuez vous!
- Uma coisa tem que ser dita. – interferiu mais uma vez o Sapo. – O discurso de quem arranca mandioca é um e de quem vê os outros arrancando mandioca é outro.
- E por falar em levar mandioca, - expôs mais uma vez a Raposa. – Como é que vai o Leão do Circo do Deba, hein?
- Ah, - respondeu o Morcego. – agora parece que está tudo bem por lá. O pastor de ovelhas, que voltou a ser domador do Leão, está calminho, calminho, não fala mais mal da gente, vive pedindo perdão. É um santo.
- Hum, isso é sinal de desgaste, vocês não acham? – perguntou a Raposa. – Quem muito se abaixa é porque está desgastado.
- Bom, a verdade que ele erra e erra muito. – sentenciou o Sapo. – Ele é muito teimoso.
- Mas ele ainda nem estreou. – apontou o Bode. – Lá na Espanha a gente só dá palpites quando tem alguma razão.
- Pois eu vou dizer o que eu bem entender. – esbravejou o Sapo, derrubando o vidrinho de Corega no chão. – Eu sou pago pra dizer tudo o que eu tenho pra quiser.
- Pago por quem? – golpeou o Bode. – Aqui na Granja Comigo Boi Não Dança o dindin tá curto. Nem pra pagar os espetáculos a gente consegue.
- Pois essa questão de quem paga eu não sei. – arrematou o Ratão. – Mas que tem muita mandioca ainda pra ser tirada e muito café com biscoitinhos pra ser servido, isso é fato. Portanto, de fome a gente não morre.
Parabéns companheiro, muito criativo. Você fez uma leitura maravilhosa desses bostas mortos de fome que trabalham lá.