Ice Box

sexta-feira, 11 de março de 2011

Chamou-me a atenção a entrevista de Silas após a pelada de quarta-feira. Havia um quê no ar não declarado. Embora eu não seja psicólogo, deu para perceber que há algum pão não digerido atravessado, uma bolachinha engasgada, engolida sem água, arranhando a sua garganta. Ele quis dizer mais do que disse, foi perceptível. Haveria riscos ocultos? Não que eu esteja imaginando uma conspiração, confissões subliminares de bastidores, uma suposta perseguição esquizóide sofrida por ele, ou algo do gênero. Nada disso. Apenas faço reflexões do antes e do depois.

Claro que as comparações são inevitáveis. Quem desassocia uma situação da outra não compreende essa coisa de contextos e conjuntura. Silas está diferente desde a sua última passagem por aqui, assim como o próprio Avaí. A sua diretoria, que antes vibrava na mesma batida da torcida e impunha um time voluntarioso, audaz e dinâmico, mesmo sendo o segundo pior orçamento daquela série B de 2008, hoje nem para estrategista serve, uma vez que já perdeu dinheiro até mesmo neste campeonato fácil de ganhar uns trocados.

E ainda que saibamos, hoje, que as declarações de Silas na passagem anterior por aqui eram pura encenação, cujo objetivo foi manter o pique da torcida, estampa-se agora uma mudança de postura. Ele adotou um recato, que nos parece obrigatório. Provavelmente porque percebeu que a torcida avaiana tenha perdido a virgindade.

Silas está frio, como o Avaí também está. Uma caixa de gelo. A magia e o encantamento que nos associava a uma religião ficou apenas para a torcida, ou a uma parte dela. O time no campeonato catarinense é um arremedo de várzea. O estádio está cada vez mais entregue aos pombos e quero-queros. E a diretoria, às suas vaidades.

Silas não é bobo. Ele sabe de tudo isso. Sabe que terá de arrumar uma cartola e tirar um elefante fantasiado de Papai Noel de dentro dela. Mas, e o que é pior, não tem a menor idéia de como fazê-lo. Há mais mistérios dentro do Avaí do que possa imaginar a vã filosofia da torcida. Silas rumina isso e deixa transparecer as suas incertezas.

Não tenho medos, porque sei que a qualquer momento alguma coisa pode mudar e as mudanças fazem parte da vida. Sou biólogo e entendo da vida, de como ela é variável e diversa. Mas me preocupa é este condicionamento estático, associado a uma inércia que tomou parte dos intestinos tapados pelos tijolinhos à vista da Ressacada.

Enquanto isso, as frases dialéticas de Silas repicam em meus ouvidos. A sua postura ressoa como um cego perdido num deserto gelado.

5 comentários:

  1. Anônimo disse...:

    Um cego num deserto gelado ressoa? A bom...

  1. Pois é, seo Anônimo, conhece aquele negocinho chamado Retórica? Figura de linguagem? Metáfora? Essas coisinhas que se aprende na escola.

  1. Gilberto disse...:

    O Avaí precisa voltar a ser o Avaí!
    Caso contrário será difícil crer num final de ano melhor do que o de 2010.

  1. E voltar a fazer as pazes com a torcida. O Avaí deixou de ser o Avaí que conhecíamos quando virou as costas para o seu maior apoiador.

  1. Ismael disse...:

    Muito bom o texto. Sem dúvida há algo de errado no reino da Ressacada.

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