A um passo além da eternidade

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O técnico Paulo Silas é um Iluminado. Pelo menos é assim que ele se considera.


A altivez, o orgulho, a soberba demonstrados por este senhor, que é treinador do Avaí, levam-nos a pensar que ele se orienta por uma missão gloriosa, tal a sua determinação e seu empenho nas convicções que assume. Ele pensa estar num projeto celestial, conduzido por forças cósmicas, orientado a levar não o Avaí, mas a sua personalidade a permanecer nos anais do universo.

O senhor Paulo Silas não pensa numa vida mundana, ao lado de personagens seculares. Não, nada disso. Ele formata eventos apoteóticos, desempenhos avassaladores a cada partida de futebol, como uma divindade suprema e irretocável. É para ele aparecer e não os outros. As partidas que dirige são eivadas de efeitos deslumbrantes, arrebatadores. São de natureza épica. Se alguém duvida, relembre a partida pela semi-final do Catarinense-2011. Naquela oportunidade ele fez os jogadores entrarem descalços no gramado do Índio Condá e incentivou alguns a provar da própria grama, numa forma de consagrar o time, aplicar uma devoção à causa e ungi-los não para uma partida de futebol, mas para um sacrifício nobre.

Seu deus e sua religião são meros sustentáculos, simples artifícios para sua revelação. Depois do perdão cristão ele quer, agora, a humilhação piedosa e cândida, uma espécie de imolação santificada por parte da torcida.

Os coadjuvantes do espetáculo que proporciona ou se coadunam ou caem, um a um, se não seguirem suas pregações grandiosas e heróicas.

Se Evando é acariciado pela torcida, ele trata de deixá-lo no banco a supurar sua outrora necessidade nirvânica. Não pode haver dois iluminados na Ressacada.

Se William é candidato a rei, pois já é príncipe, será colocado numa posição escondida no campo. Deverá superar-se das marcações contundentes e salvar a procissão de santos dispostos no gramado. As contusões pelo esforço são as penas a pagar pela petulância de querer ser mais que o chefe. Um príncipe imolado.

Marcinho Guerreiro é aclamando em uníssono? Então o senhor Paulo Silas trata de ajeitar uma forma de ele jogar no limite, segurando as chaves do paraíso siliano, mas não garantindo que as outras portas da defesa estejam fechadas. O Guerreiro se esvai em suores e cansaço, até não poder mais.

Os querubins de sua lavra, como Diogo Orlando, Marquinhos Gabriel, Felipe, Acleison e Revson, são, estes sim, sectários da causa, seguidores do santo ofício e podem ser considerados os ungidos a auxiliá-lo na sua sacra demanda.

Já para Renan é imposto o sacrifício maior, o de receber os olhares e angustias das arquibancadas, a contemplação dos necessitados, que apostam nele as defesas santificadoras, mas que para isso é preciso atravessar o calvário de zagueiros mal dispostos e atarefados. A sua crucificação estigmatizadora debaixo das traves é um bálsamo purificador para quem não quer concorrentes na oblação.

Estrada, pela voluntariedade e empenho, agraciado com vivas pela torcida, não terá vez no altar dos escolhidos. Nunca. Jamais. Sua atitude é superior aos querubins de pau oco e, se entrar mais vezes nos jogos, poderá desestabilizar o intento maior, que é a heróica caminhada ao estrelato dos sacrificados do senhor Paulo Silas. O Corpus Silas não pode conservar reverências colombianas.

Por último, o Anjo Loiro, que teima em se manter ao largo da marcha santa do senhor Paulo Silas. Marquinhos Santos rouba a cena, pelo bem ou para o mal. Divide microfones e incentiva a torcida. É amado e odiado. É um dissidente direto. Um bezerro de ouro idolatrado e venerado como se faz a um deus pagão. Não pode fazer parte da saga protagonizada pelo treinador. Deve ter suas funções acorrentadas e sua iniciativa podada pela falta de companheiros. Quanto pior jogar e quanto mais vaiado for pelos crentes avaianos, maior será a caminhada do senhor Paulo Silas para a eternidade.

Não, nada disso, a eternidade é pouco, é logo ali. Ele quer mais. Ao infinito e além.

Enquanto isso, para o Avaí e sua torcida, é-lhes reservado o mais profundo dos infernos, a mais dantesca das humilhações, pois, ao contrário do que parece, não podem haver dois deuses na Ressacada.

3 comentários:

  1. Eron disse...:

    Meu caro Alexandre, nosso treineiro cagão já está entrando no umbral com essa campanha medíocre, para dar um abraço no diabo é rapinho!
    Eron

  1. Meus caros Eron e Thiago, com toda a sinceridade não queria fazer estes tipos de comentários. Dói, memso, de verdade, a gente constatar que a canoa está virando.

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