Eu não sou daqueles que vive babando pelas personalidades. Faço jus às suas competências, mas quem amo mesmo são minha mulher e meus filhos. Portanto, no âmbito do futebol, onde permeia a bipolaridade, execrar um jogador ou treinador, hoje, e aplaudi-lo desbragadamente amanhã não é comigo. Uma coisa é ter admiração pela carreira profissional de alguém. Outra coisa é aquela reverência peculiar que distorce o raciocínio e esfola as mãos. Eu prefiro a primeira opção.
Por isso, não vou tecer comentários à atitude de Rafael Coelho em se omitir do clássico. Ele sabe, mais do que ninguém, que apenas quem pune é a bola. Também não vou levantar impropérios ao novo técnico do Avaí antes de seu primeiro ato. Conversas com Neguinhos e Branquinhos e carreira de currículo pouco atrativo não são atestado de incapacidade. Se ganhar o clássico, será endeusado. Se perder, é o mais do mesmo e a vida bandida do Avaí segue. No reino da mediocridade às vezes temos que passar também por medíocres para não atestar a mediocridade dos outros.
Precisamos é entender o momento do Avaí, que foi trazido até aqui por puro descaso. Claro que nessa altura do campeonato tanto o jogado, quanto o da nossa vida, investir numa aposta (sim, o Toninho Cecílio é uma aposta, que isso fique bem claro!) é sinal inequívoco de que se está pensando no futuro. Nosso passado de glórias ninguém nos tira e nosso presente é um pesadelo de onde não conseguimos acordar. Portanto, é olhar pra frente.
Se encerraram as cotas de bobagens. É, isso mesmo! A diretoria avaiana, depois de tantas voltas, com GPS sem bateria e com a bússola quebrada, percebeu que, se fez tudo errado, então o negócio é investir no futuro. Ao cair para a série B, deverá ter porte amadurecido o suficiente para reconhecer o erro que o levou até ali, e se municiar de força e saúde para voltar brevemente. Se o novo técnico emplacar, ainda que não consiga nos tirar do atoleiro, deverá se manter na montagem de um novo time.
Constatamos as deficiências, condenamos, xingamos e nos aborrecemos pela ineficácia em corrigir a rota, mas é bom entender que o futebol tem disso, dessas coisas terríveis que são os rebaixamentos e as glórias do acesso.
A única coisa que deve ficar de lição, para uma correção de rota no futuro, é que time sem torcida não anda. Empaca, patina, se arrasta. Esse deve ser o pensamento para a próxima temporada, independente de qual série estejamos, ou seja, trazer de volta a torcida do Avaí para a Ressacada. Se, num primeiro momento, isso for corrigido levando-se em conta a sensatez característica do futebol, voltaremos a nos orgulhar de nosso clube. Se não, as séries mais baixas do campeonato nos aguardam.
Também não vou tecer comentários a respeito do técnico Toninho. Apenas torço pra que faça um bom trabalho, e nos ajude a sair (e não mais voltar) do Z4. Quanto a nós torcedores, que possamos ser tratados com mais zelo, afinal, somos o maior patrimônio do Avaí!