"- Não tenho como lutar esta “batalha desigual” contra estes moinhos de vento.", disse o espanhol Miguel de Cervantes através de seu mais famoso personagem, Don Quixote.
Os tempos dos cavaleiros andantes, ingênuos primários a salvar donzelas indefesas já se passaram. No mundo do século 21, as donzelas - que nem mais donzelas são - lutam jiu-jitsu, andam de carro do ano e são gerentes ou diretoras de grandes redes. E os cavaleiros andantes são mega-investidores a cuidar do próprio nariz. Mas ainda sobrou um pouco de dignidade por aí.
Nesse mar de mediocridades que tem sido a Copa do Mundo, tanto de jogos como de analistas esportivos, Dunga está dando um banho de sinceridade. E a Globo, que em Copas passadas detinha o poder de se meter em tudo, agora está levando um baile dos brasileiros da seleção, seja do técnico Dunga, que é achincalhado a todo momento, ou dos jogadores, que são tachados de pernas de paus - os bons são os do Santos. Imagine alguém ficar buzinando que você é isso ou aquilo o tempo todo, e no seu trabalho. Dunga está enquadrando todos os jornalistas. Bem que ele faz!
O problema é que os jornalistas da Globo se acham estrelas, os caras, aqueles para onde o mundo deve se voltar. Quando a comissão técnica da seleção resolver endurecer a linha, impedindo os oba-obas, as festas com celebridades e jogadores, a Fátima Bernardes abraçada com jogadores para as "exclusivas" do JN, que àquela hora deveriam estar dormindo, e focar a campanha do time apenas nos jogos, a Globo se irritou, pois o seu aparato tecnológico enviado para a África ficou ocioso. Achou o seu bode, que, diga-se, já era um camelo e virou um elefante expiatório. Dunga foi declarado inimigo público número um da Globo por tê-la peitado, por apresentar personalidade, por dizer e fazer o que quer e não o que ela pensa. Ele não está ressentido pelo passado, mas está trabalhando, coisa que alguns jornalistas da Globo não sabem o que é.
O sujeito vai para uma entrevista e o cabra levanta o dedo, ou faz meneios com a cabeça num visível intuito de constranger o treinador. Afinal, ele foi vencendor num jogo em que os "ixpecialistas" davam como de risco. Os "ixpecialistas" da Globo, é verdade. E como há "ixpecialistas" por aí, como há gente arrogante, pequena, mas se achando importante, e que declara abertamente o seu preconceito, que a sua fala é mais importante que a fala do mundo ao redor. Diz que todos são infelizes e comuns, que devem baixar a cabeça para um mandante qualquer. Pois bem, Dunga ousou dizer não.
O paroxismo de Dunga no ataque aos jornalistas é diretamente proporcional à incapacidade da emissora poderosa no Brasil em vender o produto "seleção brasileira" ao seu estilo, ao estilo de quem manda. Fechando-se para a mídia, ou principalmente, para a Globo, ele demonstra que sabe andar com as próprias pernas, o que é inadmissível para quem comanda a mídia. Já há quem diga que os patrocinadores da seleção vão dar uma enquadrada no Dunga. Eu acho que Dunga vai é mandá-los pros quintos dos infernos.
Aguardo ansiosamente.
Pra mim, ao contrário, o Dunga se igualou na mediocridade dos jornalistas.
Deveria peitar, deveria enfrentar, mas tudo com o mínimo de educação e respeito aos telespectadores.
Baixo e vulgar, como sói ser o "comandante" da seleção