Não está mais complicado. Passamos da fase do complicado. Agora os crentes apelam pras rezas. E os ateus, como eu, para aquele João Caminhante 12 anos. E quem não bebe e não reza, que comece a praticar ioga.
As lições que o Avaí (torcedores, diretores, jogadores, vendedores de pipoca, os quero-queros) está tomando neste segundo ano de série A do campeonato brasileiro estão sendo amargas, cruéis e terríveis. Todos estamos comendo o pão que o diabo mastigou, pisoteou e amassou com uma botina de ferro fundido. É preciso, de uma vez por todas, aprender muito com isso.
Se continuarmos na série A, o que é muito difícil, que se faça uma revisão dos princípios e das metas estabelecidas para não repetir a dose em 2011. E que seja uma revisão séria, feita por homens e mulheres com responsabilidades. Se cairmos para a série B, o que é quase inevitável, que possamos, numa possível volta, fazer a coisa com mais juízo, assumir nossa realidade. Admitir os erros não é vergonha pra ninguém, não se vai perder casamento por isso, mas que se admita que fracassou por estupidez plena e absoluta. A vida segue. Quando voltar a ganhar, com certeza voltarão as faixas de “esse eterno”, “aquele fantástico”, o “outro é guerreiro”, e muitos esquecerão tudo isso. Se há uma coisa que torcedor não tem é rancor.
Mas é bom que se tenha noção de coisas óbvias. E parece que isso foi esquecido.
Participar de um campeonato difícil, encardido e equilibrado desses não é para qualquer um. Não se disputa uma competição destas apenas para participar. “Não quero nada, só vim aqui para ver como é que é.” Não, não funciona assim. Claro que as ambições são medidas de acordo com as competências de cada um, mas ainda assim deve haver alguma ambição, por menor que seja. Ir a uma festa de gala e ficar no seu cantinho, sem comer e nem beber e para que ninguém te veja porque não tens uma roupinha decente, então é melhor não ir.
O Avaí, em 2009, embora também não tivesse grandes ambições, mostrou a todos que era competitivo, que tinha fibra, garra e, mesmo com parcos recursos, apostou na voluntariedade e na disposição de atletas, na comissão técnica e no apoio de seus torcedores. Em 2010, contudo, apostou em atletas inválidos, em meia dúzia de maus carácteres, em “estrangeiros” que não sabem sequer onde fica a Ressacada, e ainda por cima quis tirar da torcida aquilo que ela não tem. É preciso que se diga que qualquer clube de futebol no mundo, que aposte suas fichas na capitalização das arquibancadas, está fadado ao fracasso. Da arquibancada pode sair dinheiro, que irá pagar o ônibus, o padeiro, o massagista, o trio elétrico para as festas, mas nunca o financiamento de uma campanha. Não sou economista e nem administrador de empresas. Apenas um simples biólogo. Mas não sou burro.
Agora se quer culpar o coitado do goleiro pela cagada. Bobagens! O problema não foi o goleiro tanso, o juiz ladrão, o gol perdido por um incompetente, os imbecis da imprensa, mas um conjunto de fatores, que são escondidos enquanto a maria-mole é doce. Mas é na desgraça que o sujeito percebe o mundo ao redor. Deve perceber! E ele é feio e horrível. A vida não é bela coisíssima alguma. Os cenários são cinzentos e cheios de intempéries. Mas quando se planeja as coisas com humildade (preste atenção: humildade!) e perseverança, se consegue atingir os objetivos pautados. Tornamos as coisas menos traumáticas agindo assim. Um pouco mais ensolaradas, diga-se. E humildade, para isso, é o primeiro passo. Não é ser medíocre, mas ter os pés no chão. Acima de tudo, afastar as vaidades e se pensar que, o que é conquistado com suor e lágrimas, deve ser valorizado. Sempre!
O Avaí em 2010 exacerbou sua cota de vaidades. Ampliou sua capacidade de arrogância. E intensificou sua conduta grosseira, ao fazer as coisas de supetão. O Avaí chegou a virar as costas para o seu torcedor, o único patrimônio palpável que possui. Isso é inadmissível.
O Avaí mostrou que é um pobre que quer parecer bonitinho. E demonstrou, com toda a capacidade absurda, que o sucesso, quando sobe à cabeça, tende à queda do incauto no mais profundo dos abismos.
O pior de tudo é que a cartilha desse fracasso estava bem ao lado. Era só atravessar a ponte. Mas, na Disneyland avaiana, alguém está esperando ficar pior para tomar alguma decisão. Quem sabe com ingressos a 1 Real? E na série B, jogando pra não cair contra um Duque de Caxias e tendo as melhores acomodações dos times brasileiros. Que tal?
Em resumo: esta meia dúzia de bestas implodiram o Avaí de dentro pra fora.