Muita gente no Brasil (em todo o território nacional) adora repercutir o que os europeus e os americanos do norte fazem, e desprezam as coisas da nossa própria terra. A terra coberta de neve na Europa é mais bonita, a moeda (papel) dos ianques é uma obra de arte, as construções na Escandinávia são um primor, o povo italiano é nobre, os falares e cantares são especiais, a estrutura é assombrosa, a organização é singular e o jeito de ser é o melhor. Ser europeu ou americano do norte é o sonho do brasileiro comum.
Do brasileiro idiota, acrescento.
Enquanto isso, por aqui, nada presta, tudo precisa melhorar, somos feios, analfabetos, temos doenças, baratas, coceiras, mosquitos, ratos e urubus.
E este pensar é estendido ao comportamento do brasileiro dentro do Brasil. Nordestinos querem viver no Sul, os nortistas adoram São Paulo e Rio de Janeiro, gaúchos e catarinenses têm projetos empreendedores no norte do país, e cada um vive a olhar e almejar os “benefícios e benesses” que a região vizinha proporciona. E quando não conseguem, passam a desmerecer o que o local ou habitante de outros lados tem ou desenvolve, além de desancar e arrasar o seu próprio quintal. Xenofobismos e preconceitos os mais variados afloram, para lá e para cá.
A tudo isto se chama complexo de inferioridade, que o brilhante Nelson Rodrigues chamou competentemente de COMPLEXO DE VIRA-LATAS. “O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. (...) não possuímos auto-estima.”, dizia o dramaturgo carioca. Atestava, ele, a falta de valorização que temos de nossas coisas.
Felizmente, os 8 anos do governo Lula permitiram que se diminuísse essa sensação de impotência, e muita gente voltou os olhares para os seus bons valores. Porém, no campo do futebol, que é uma autêntica demonstração de nossa cultura, a coisa ainda engatinha e a inferioridade permeia nos campos e vestiários Brasil afora.
Faço essa análise baseando-me no que vejo a respeito do que comentam por aí sobre o time da Ressacada, o Avaí Futebol Clube. A pouca valorização que alguns avaianos de opinião, que torcedores ditos fanáticos e mesmo os modinhas de ocasião dão a respeito do clube, à instituição e ao próprio time é de dar dó. Uma vírgula se transforma em redação e um ato contrário vira declaração de guerra nos Carianos.
Opinião e bunda é um troço único e singular: cada um tem a sua. Porém, cada qual fede de acordo com as “experiências” vividas.
Vejo, sinceramente, uma necessidade de se alavancar a auto-estima avaiana em todos os lugares. Uma revolução de costumes é condição necessária para nos tornarmos diferentes. Que somos um clube pequeno no restante do país, que nosso patamar financeiro é ridículo, que a contratação de jogadores é disputada com clubes de série C, D e até Z, que há problemas de planejamento aqui ou acolá, que precisamos sangrar torcedores abnegados para nos mantermos por alguns anos na mais disputada série de futebol do mundo, disso qualquer ameba sabe. Ficar relembrando a situação em que nos encontramos é digno de quem fugiu do confinamento psiquiátrico. O difícil, portanto, é dizer ao contrário. Por supuesto!
Relembro a contratação de Ronaldinho Gaucho, cujo comportamento da mídia e torcedores envolvidos é um exemplo. Um jogador fabricado pelo marketing, essa fábrica de doidos, que transforma parafuso em peça elementar em nave espacial, e que foi capaz de torná-lo o craque descartado lá fora, na maior e melhor contratação dos últimos anos no país.
Se até um jogador baladeiro e em fim de carreira pode ser a máxima apoteose no futebol canarinho penta-campeão do mundo, por que o Avaí Futebol Clube não pode ser valorizado pelos seus torcedores?
Qual é a dificuldade? Ah, a camisa não é de grife? Ah, um dos jogadores da temporada jogou no rival? O diretor financeiro não é do ramo? Os ingressos são caros? As filas na Ressacada são ingratas? O torcedor merece respeito? Sim, tudo isso pode ser verdade. Ou pode, apenas, ser mudado pela boa-vontade. Eu topo! Quem vem comigo? Claro, virão apenas os que entendem.
Parabéns pelo texto!
Eu começaria como o Marquinhos quando chegou em 2011, "todo campeonato que eu entrar, vou pra ganhar". Obviamente não queremos cair e lutaremos para continuar na série A, mas vejo que a postura deve mudar. Devemos parar de comparar times e focar nas vitórias dentro e fora de campo no Avaí.
Somente com perfil de campeão chegar num patamar maior. Que o torcedor e o clubem "encarnem" isso por vez!
SDS!
André A. Müller