Mais uma da Granja

Os bichos-cricri da famosa Granja Comigo Boi Não Dança, mais conhecida pelas iniciais CBN-D, a Raposa Felpuda, maledicente e ardilosa, o Sapo Duende, encrenqueiro e eterno inconformado, o Bode Espanhol, velho, muito velho e carcomido, o Ratão do Banhado, que não deu certo em lugar algum e acabou dando na Granja e o Morcego Moicano, que posa de intelectual pra fazer gênero, estavam cabisbaixos, ao lado do brejo onde a vaca doada pela Granja do Vizinho havia se atolado.

Lá pelas tantas, o Sapo, observado o jeitão do Ratão, perguntou:

- Que é que tu tens? – vendo o Ratão acabrunhado.


- Ah, não é nada, não. – babou-se o roedor. – É que o lado de lá, a Granja do Vizinho, está às moscas.

- Pra mim tá bom! – entusiasmou-se o Sapo, diante da possibilidade de comida. – Vocês vivem sempre atrás de biscoitinhos, cafezinhos, pois eu adoro é moscas mesmo. – abaixou-se o Sapo, tirando um cabelinho de seu sapato branco.

- Tem razão o Ratão. – interveio a Raposa. – Aquilo estava tão bonito, tudo brilhando, pinturinha nova. A horta de brócolis estava viçosa que só vendo. E, de repente, tudo acabou. Que desgraça! Como que eles deixaram isso acontecer? Cadê o capataz, irmão do Pateta, que não nos dá explicações?

- O que será que houve? – quis saber o Bode Espanhol. – Lá na Espanha, quando as granjas e aviários se estrepam, é porque tem coisa interna mal resolvida. Será que a obra na pinguela já acabou?

- Mas tu és um cretino, mesmo. - incomodou-se a Raposa. - Que diabos de pinguela é essa?

- Pô, é a pontezinha que liga o lado de cá com o lado de lá. - explicou-se o Bode. - Ali tem um veiozinho de ouro, de onde sempre se tira alguma coisinha, intendessi?

- Ouvi dizer que o Leão do Circo do Deba andou por lá e pisou na plantação. – comunicou o Morcego Moicano. – Derrubou até a figueira velha que estava na entrada da Granja deles. Uma figueira enorme, majestosa, mas que tem o pau podre.

- O Leão andou por lá, é? – duvidou o Sapo. – Mas o Leão fazia tempo que não saia de casa. Andava meio amuado, cabeça baixa. Não comia mais ninguém.

- Ah, mas chegou aqui a informação – completou o Ratão - de que o Leão foi pela Estrada nova, a pedido do domador-pastor, e parece que encontrou um jeito de matar a fome. Dizem que o Coelho que acompanha o Leão entrou de voadeira e tudo.

- Que é isso, hein, ô? - largou o Bode.

- Esse Leão faz coisa, ô? – arrematou o Sapo.

- E agora, o que vai ser da Granja do Vizinho? – preocupou-se o Ratão. – Quando é que será que o Cavalo do Paraíso vai voltar?

- Aquele que comeu o brócolis pela raiz? – decretou o Sapo. - Só se o irmão do Pateta deixar, né.

- Eu acho que vai acabar é o café com bolachinhas das segundas feiras. – definiu o Bode.

- Isso é mentira! Nunca houve um café com bolachinhas por lá. – irritou-se a Raposa. – O que havia era uma... uma confraternização de amigos... mas eles viraram a cara pra gente. Não sei o motivo.

- Bom, o que nos resta agora é assistir a mais uma apresentação do Leão. – conformou-se o Ratão. – Só que não será no Circo do Deba, mas lá no circo da reserva caingangue.

- E será que o Leão vai continuar indo pela Estrada nova? - quis saber o Bode Espanhol.
 
- Olha, isso eu não sei - conformou-se o Ratão - mas se o Leão fizer outra boa apresentação, quem vai ter que ir pela estrada velha sou eu. É muita humilhação.
 
E babou-se de raiva.